quinta-feira, 3 de abril de 2014

Mortes no trânsito são inaceitáveis!

Recebi do amigo Eduardo Bernhardt dois e-mails falando sobre segurança no trânsito e não pude deixar de divulgar e comentar.

Em primeiro lugar porque escrevi há alguns dias um artigo sobre este tema, com muitos números que derrubam o mito de que andar de bicicleta é perigoso, contrariando o "senso comum".

Neste mesmo artigo defendo a tese de que perigosa é a combinação de veículo motorizado+velocidade. Entra naturalmente nesta equação a massa do veículo, o perigo aumenta proporcionalmente ao tamanho.
Em segundo lugar porque o tema é tão recorrente que não pode ser ignorado como uma coisa banal.

A primeira notícia é ótima: um atitude do prefeito de Nova Iorque, propondo ações e metas para levar o número de acidentes de trânsito a ZERO. É tão bom que reproduzo aqui:

[...]
Por Isabel de Luca

O projeto inclui redução da velocidade máxima permitida e cerco a taxistas infratores

Diretora de comunicação de uma escola do Upper West Side, em Manhattan, Jenny Bruce já perdeu a conta de quantas vezes escapou por pouco de ser atingida por um carro na esquina da Avenida Amsterdam com a Rua 96. Uma professora não teve a mesma sorte: atropelada por um táxi ao chegar ao trabalho, três anos atrás, passou meses de licença e até hoje é submetida a sucessivas cirurgias reparadoras. A Montclare Children's School divide um quarteirão com outros oito colégios, numa área alçada a símbolo de um problema que ganhou súbita urgência na agenda do prefeito de Nova York, Bill de Blasio.

Se em 2012 houve 277 mortes em acidentes de trânsito na cidade, em 2013 o número subiu para 286. Este ano, 31 pessoas já perderam a vida em choques com automóveis - 22 eram pedestres. Só no quarteirão da Montclare, houve três vítimas em menos de duas semanas, entre elas um menino de 9 anos. Foi uma escola pública daquela região, portanto, o local escolhido pelo novo prefeito para anunciar a mais nova de suas ousadas metas: eliminar as mortes no trânsito em dez anos.

Batizado de Visão Zero, assim como o programa sueco em que foi inspirado, o plano de ação inclui 63 iniciativas, entre elas a redução do limite de velocidade na cidade para 40 km/h, o redesenho de ruas e ações educativas. Algumas propostas - como a expansão do sistema de câmeras que flagram motoristas em excesso de velocidade - precisam da aprovação do governo estadual, em Albany, onde De Blasio já tenta emplacar o polêmico aumento dos impostos dos nova-iorquinos com renda superior a US$ 500 mil por ano para financiar pré-escolas.

"Não aceitamos o status quo que leva a tantas mortes que poderiam ser evitadas", afirmou De Blasio no lançamento do projeto. "Nós nos recusamos a aceitar a perda de crianças, pais e vizinhos como inevitáveis. Estamos focando todo o governo municipal na prevenção de mortes nas nossas ruas".

As medidas foram recebidas com alívio e cautela. Em artigo no “New York Times”, a editora da revista “Fortune”, Leigh Gallagher, saudou a proposta do prefeito, mas ressaltou que, em vez de focar em policiamento, pedestres distraídos ou motoristas imprudentes, De Blasio deveria se debruçar sobre o traçado da cidade. “Temos ruas que foram desenhadas em volta do carro, numa cidade enxameada por cada vez mais pessoas a pé”, escreveu.

Jenny Bruce, diretora da Montclare, tem questões especialmente relacionadas à iniciativa que prevê a aplicação mais severa de multas, inclusive para pedestres.

"Alguma ação é melhor do que nenhuma, porque nada foi feito nos últimos anos", ela pondera. "Mas entre as mortes ocorridas no quarteirão da nossa escola, só um pedestre estava supostamente atravessando a rua de forma imprudente".

Ela promete continuar pressionando juntas comunitárias e líderes locais para pôr guardas de trânsito na área pelas manhãs. Se não der certo, pretende arregimentar pais como voluntários para organizar o cruzamento das ruas que cercam a escola durante a entrada e a saída:

"Há um grande tráfego de pedestres nessas horas, incluindo crianças. É muito perigoso. Carros dirigem com impunidade. Esse cruzamento é um desastre".

Resistência estadual

Taxistas também se opõem a partes do plano, sobretudo à medida que prevê uma pausa no taxímetro quando o motorista estiver acima da velocidade permitida. Para a ONG Transportation Alternatives, que desde 2007 promove o Visão Zero em Nova York, porém, a adoção do programa é uma grande vitória.

"As 63 iniciativas exigem diferentes níveis de vontade política, cooperação e legislação para acontecerem, mas sublinhando todas elas está a noção de que todas essas mortes são evitáveis, e temos a obrigação moral de implementar todas as medidas que pudermos para evitá-las",disse o diretor executivo da ONG, Paul Steely White. "O aspecto mais importante é a estrutura moral: a premissa de que qualquer morte no trânsito é inaceitável".

O mais difícil, para ele, será implementar as medidas que precisam de aprovação do governo estadual.

"Nova York é única no sentido de que muitos aspectos municipais são governados pela legislatura estadual. E no norte do estado eles não entendem uma cidade de pedestres como Nova York, porque dirigem para todo lugar e acham que ruas são para carros. Mas ao nosso lado está uma crescente consciência por parte dos políticos, graças ao trabalho das famílias que perderam integrantes no trânsito. O investimento pessoal delas, contando suas histórias, fará toda a diferença".

Recentemente, uma audiência pública sobre o Visão Zero em Manhattan atraiu cerca de cem pessoas, entre elas parentes de vítimas como Sammy Cohen Eckstein, de 12 anos, que morreu atropelado no Brooklyn no ano passado.

"Alguns vão reclamar da inconveniência, da perda de vagas de estacionamento, de que vão demorar mais para chegar aos lugares", reconheceu a mãe do menino, Amy Cohen. "Mas suplicamos que vocês respondam, a quem quiser obstruir as mudanças de que precisamos, que vocês conhecem quem perdeu tudo por causa de ruas que não eram seguras. Também não achamos que aconteceria conosco".

Matéria originalmente publicada no jornal O Globo

Fonte: http://www.cidadessustentaveis.org.br/noticias/prefeito-de-nova-york-lanca-programa-com-meta-ambiciosa-de-reduzir-zero-mortes-no-transito

Sobre a decisão de Nova Iorque, ouça uma ótima entrevista na CBN com o colega Carlos Aranha, um dos fundadores do Bike Anjo. 

[...]

A segunda notícia corrobora com o tema, esta é triste, números que mostram como os veículos motorizados matam em São Paulo, e mais uma vez quase 50% das vítimas são pedestres...

A matéria foca nas vias com maior número de acidentes, mas eu chamo atenção mais uma vez para os números, que parecem achar "normais".
É assustador como os veículos motorizados matam e continuamos achando normal!

Aqui o link: As 50 vias com mais mortes de trânsito em São Paulo. Publicado no G1.

[...]

Eu volto aqui para falar novamente sobre o tema segurança no trânsito, porque esse assunto precisa ser repetido repetido repetido e estressado. Para que de alguma forma entre em nossas mentes, subliminarmente, forçadamente, e até naturalmente. Sem trocadilhos.
Porque enquanto não conseguirmos enxergar o verdadeiro problema, vamos sempre dizer que a culpa é sempre dos outros.

Fiz questão de colocar os dois artigos juntos para vermos as discrepâncias e dicotomias: um lado acha tão normal que os acidentes aconteçam que apenas faz questão "rankeá-los". O outro lado não se conforma, questiona, debate, quebra o status quo, desafia, movimenta, pensa, age.

Escolhamos o nosso lado!

E para (quase) fechar: para os que só vêem o copo meio vazio e pensam: "- isso é utopia, não vai funcionar", veja de onde vem o exemplo, real, realizado; a Suécia:
- O que o trânsito brasileiro pode aprender com a Suécia.
- Entrevista com Claes Tingvall, do Departamento de Trânsito da Suécia e um dos arquitetos da política Meta Zero.

E para fechar (tomara!) deixo perguntas no ar:
- PORQUE a gente vê estes exemplos e pensa "aqui não daria certo"? Não dar certo é interesse de quem?

Até o próximo...

Em tempo: eu acho péssimo contar acidentes e mortes no trânsito como se fossem "apenas" números. Como se fossem apenas fomento para ilustrar teses. Quero deixar claro que esses números representam tristeza, mas eles não podem jamais serem esquecidos, porque devem servir de exemplo e lembrança, para que não se repitam.

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